Quatro passos

Um passo a frente
Eu não acredito
Faço piada com tudo que digo
Já que (com) todos foi igual
Você não pode ser diferente

Mais um passo
E eu vacilo
Erros servem para ser cometidos
Mas eu gero cansaço
Estimulo o fracasso
Auto-saboto o meu caso

E um passo a mais
Já não mostrei que não sou capaz?
Ninguém deve amor a mim
Não terei companhia jamais
Proíbo que caminhe assim
Siga os sinais e proteja-te

Quando chega o quarto passo
O passo mais longo e demorado
O passo que é dado pelo amor de fato
Eu não resisto e me abro
Solto demônios, deuses, diabos
Todos livres e declarados
Ansiando estar ao teu lado

A barragem começa a rachar
Deixando meus sentimentos a jorrar
E nessa loucura viva na cabeça
Você me pede para que te esqueça

Remendo a barragem
E seco os sentimentos com a mão
Pedindo para você perdão
Rezando para encontrar solução
Mas não
Não é falta de coragem
É não ver vantagem

Não é sobre perdão ou gratidão
Sou uma perda de futuro
Não sou suficientemente maduro
Nunca houve construção
É só a foda que nos mantém
Juntos

Agora que de novo levanto os muros
E desfaço os passos dados
Penso sobre meus amados
E entendo que é melhor partir
Colando as partes que deixei por aí
Do meu coração
Que se fragmenta a ruir

Súplica de amor

Eu gosto da ideia de que meu coração é grande. E de que nós amamos até onde ou quando nosso coração pode chegar com o amor. Recebendo e dando.

Meu coração há muito tempo não absorve o amor que recebe. De fato, venho continuamente desistindo do amor batendo em minha porta. Dos mais belos aos mais toscos, dos mais profundos aos mais rasos, eu fugi de todos, temendo o sofrimento que é amar alguém. Entretanto, ao passo em que eu degustava esses amores, algo sempre ficava para trás, como um quarto vazio acumulando tranqueira, como um coração acumulando espinhos. Tolo, pensei que seria o suficiente para saciar a fome de amor, quando na verdade eu não sentia fome – eu sentia solidão.

Por que eu preciso sofrer ao amar?

Por que o amor tem que significar dor?

A cada mordida em um fruto da árvore do amor, meu coração afundava ainda mais num precipício sem fundo. Tudo, absolutamente tudo, pesava em meu coração, que afundava descompassadamente. As palavras que soavam absurdas eram ditas e as ações que me guiavam eram comedidas.

E, por mais que o tempo passasse, eu não conseguia me acostumar a viver dolorido. Sempre surgia uma fada da esperança em meus ombros me convencendo a confiar, me instigando a não hesitar. Logo mais eu a via voando para longe, rindo em escárnio enquanto eu chorava no banheiro. Afundando em mim mesmo…

Ao toque, espetava como espinhos.

Ao som, agonizava como metal contra metal.

Ao cheiro, embriagava como bêbados.

Ao gosto, azedava como umbu.

Ao olhar, ardia como pimenta.

Do menino que não gostava de usar a palavra “amor” em vão, tornei-me um escravo da paixão. A brincadeira de se envolver sem amar se tornou fácil e acabei desaprendendo a dar significado à palavra por conta de tanto tempo sem usar.

Interesse sem significado, vontades vazias, carne batendo na carne e o calor sem vida.

Sem identidade.

Sem pessoalidade.

Sem amor.

Dentre tantas outras bocas, onde foi que eu perdi meu beijo?

Dentre tantas histórias em que me humilhei, onde eu deixei meu orgulho?

Meu auto cuidado…

Não estava esperando me apaixonar de verdade.
Até você chegar.
E agora eu tenho medo de te perder.
E me afundar de novo.
Eu sei que me coração é grande e sei que ele não tem limites para amar, mas isso não significa muito e não responde as perguntas que fiz até agora. Se puder, eu quero sua paciência. Eu quero sua presença. E te peço por seu amor. Daqui, eu vou me esforçar para desvendar essa infinidade contigo. Para mergulhar no que é novo e, portanto, desafiador.

Isso é muito difícil para mim também, eu quero que entenda que meus sentimentos são de vidro e quebram muito fácil, mas eu vou deixar a guarda baixa e vou te dar as armas para dar xeque em meu coração.

Por favor, não me deixe.

Luto, dor e saudade

E os dias passam inclementes
Quem disse que o tempo cura
Ou só morreu com a dor imatura
Ou não sofreu o suficiente

A dor está no subconsciente
Vicejando em minha mente
Espreitando em meu ouvido
Mudo rapidamente de sentido

Se em uma hora feliz sorrio
Na outra hora lembro do vazio
Se esqueço da dor no momento
Aflora no meu peito desagradável
Sentimento

“Sinta tudo que puder, amigo
Não esconda o que sente.
É a melhor forma do presente
De criar para si um abrigo”
Mas eu não consigo

Talvez amanhã eu acorde bem
O mundo esteja girando de novo
E eu siga o fluxo também

Talvez amanhã eu acorde triste
E não consiga prosseguir
Por mais rápido que o mundo gire

A noite

A música em ritmo viciado
Em meu lado, o casal quase formado
O outro a galera falando do mundo
E não salva uma bendita alma
Que aos olhos de Deus seriam salvas
Aqui as línguas acham o absurdo
Por favor que os deixem no mudo
O mundo quieto merece seu prestígio
Talvez só eu que seja meio vazio
A noite permanece longa e hostil
Cambaleio pela rua entre bebidas,
Entre os meninos encantadores
Entre as mulheres tão bonitas
No bar está tocando “Flores”
Entre os goles, aos montes
Esvazio a garrafa de plástico
Antes continha vinho ácido
Agora ele desce minha garganta
Ainda tenho sede de dança
Entro em um frenesi louco
Ponho meus passos pra jogo
O mundo se enche de alegria
Por mais que eu esteja triste
Nunca fui uma pessoa sozinha
Também não sou um desistente
Eu sigo em frente, eu passo a linha
Eu convido para dançar um rapaz
Atraente
E ele dá um passo para trás
Olha para o lado, vê mais dois
Iguais
Riem de mim por terem pena
Pena por dançar, lindinho?
Volto para a pista e disfarço a cena
Às vezes é melhor estar sozinho
E a noite serve para isso apenas
Acalantar-me com um vinho
Esquecer-me de ontem e amanhã
Enlouquecermo-nos até de manhã
E quando chega o sol
Mostrando as vergonhas para nós
Recomeçamos rindo sós
Na cabeça só memórias boas
Limpeza que só a noite faz

Ainda amo os malditos…

Tolice a minha acreditar em algum homem
Que ve o mundo numa lente disforme
Entenderiam a complexidade multiforme
De sentir o que puder por outros homens…

Sinto-me encapsulado numa outra realidade
Corro atrás de meus sentimentos quanto posso
Sou aberto, claro, direto para não faltar vontade
Mas assusto aqueles que eu me esforço

Talvez eu esteja errado nisso tudo que faço
Eu não deveria me expor tanto como ajo
Ou penso ou falo
Mas eu sei que meu coração é puro e valoroso
E isso é o suficiente para eu tentar de novo
E de novo e de novo
Até eu esquecer o quão está sendo doloroso
Ah… Todo esse martírio por reciprocidade
Até que eu enxergue nesse mar de crítica e vaidade
Alguma forma de respeito pela minha verdade

Rindo, eu ainda amo os malditos

Cartas para queridos#8

Sou direto

Não quero mais segredos
Agora somos só dois de nós
Cansados demais, eu excedo
O corpo treme ante sua voz

Tomado de desejo
A vontade nos olhos espelhada
Os olhos que sempre vicejam
Mas a boca não sai uma palavra

Deixe de lado o silêncio, amor
Entregue-se ao seu instinto
Sinta crescer pelo vinho tinto
Aquele prazer de mil sóis, o calor

Ou será tudo minha imaginação?
Aquela olhada, aquele movimento
Ou mesmo o toque em minha mão

Não sei em que momento
Eu destruí aquela canção
Mas ainda preservo
Esse sentimento…
De carinho
Vontade
Saudade
Envolvimento.
Deixo-o demais
Para o passado próximo e fugaz
Ou para o futuro impossível e lento

Cartas para queridos#7

O príncipe encantado morreu
A bruxa o matou há anos
Pois fique em prantos
Afinal o mundo de fadas se fudeu

E agora, meu lindo gênio?
Onde você vai se encaixar?
Sem um amor perfeito
Sem lugar
Não há amor sereno
Que essa bicha vai achar

Não quero mais namorar!
E não vou difundir mentiras
As armadilhas que sejam retidas
E os olhares… Não, não dá

Ou você sai da minha cola
E deixa eu pegar outros
Ou eu pisarei na bola
E conjurarei monstros

Desabafos de um dezembro confuso

Todo dia eu peço aos céus para que as coisas que eu estou vivendo agora não signifiquem nada no futuro. Para que as pessoas, as experiências, os momentos passem. Para que eu possa respirar e viver uma vida digna de verdade, digna de mim. Viver do reflexo de meu passado é como viver uma vida que não é minha. É como renascer todos os dias com memória das vidas passadas.
Não me arrependo de nada e tampouco sinto vergonha ou medo. Eu só queria me permitir mudar, crescer, quebrar esse casulo que me prende ao passado e desabrochar numa linda borboleta ou numa feiosa mariposa. Só quero poder mudar e deixar para trás o ontem.
No entanto, a vida é cheia de truques e, quanto mais eu tento seguir um caminho a frente, mais eu percebo estar andando no caminho contrário. Quanto mais me mexo para sair, mais afundo na areia movediça. Quanto mais eu corro dos problemas para me sentir bem, mais eu volto aos mesmos problemas.

A maior armadilha de todas: afeto e proteção em troca a de controle, chantagem, manipulação, humilhação. Ela é eficiente porque combina o afeto com a humilhação, o que pode parecer confuso, mas um complementa o outro.

Cartas para queridos#6

Role agora um teste em carisma
Puro, sem bônus de perícia
Uau, um vinte natural
Eu sabia que isso não era normal

Você achou escombros
Ande 18 metros a frente
Ih, agora são monstros
Ah, não. Só são gente.

Eu acredito muito em coletivo
Para elevar os ânimos soteropolitanos
Atuar em jogo, ação, ser combativo
Não vejo tanta gente junta há anos